29/05/2015

JOGOS DE VAIDADES

 

JOGOS DE VAIDADE

RESUMO

 

Muito se fala sobre a vaidade relacionado aos conceitos externos, como preocupação com a aparência, com sua imagem corporal, mas a experiência clínica mostra que a vaidade está mais relacionada a fatores internos, a um desejo de satisfazer as suas necessidades de ser aceito, de ser bem visto pelo outro, até mesmo para evitar críticas, mesmo que isso esteja contra as suas vontades. A vaidade se manifesta de diversas maneiras como no caso do tímido, que embora tenha um jeito de coitado é alguém extremamente vaidoso e orgulhoso.

 

Palavras-chaves: vaidade, timidez, orgulho.   

 

 

 

                                  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ABSTRACT

 

 

WHAT REALLY IS VANITY?

We hear a lot about vanity on the outside concept, as a concern about appearance, but the experience in clinic showed that vanity is more connected with the inside concept of satisfy a wish about your needs of be accepted, of be well seen by the other and also to avoid censure, eben if this is against your will. Vanity shows itself in a lot of ways, as in shy people, for example, that look like pitful but are extremely over proud.

 

 

 

Keywords: Vanity, shyness, proud

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O QUE DE FATO É A VAIDADE?

 

Vaidade é um estado de orgulho não relacionado exclusivamente aos cuidados pessoais. O vaidoso é aquela pessoa que quer ter sucesso frente ao mundo com desejo exagerado de atrair a admiração buscando ostentar seu ego, esquecendo-se de olhar para si, não leva em conta que o sucesso mais importante é aquele que satisfaz o ser, aquele interior como pessoa, que vem acompanhado com plenitude onde o caráter, determinação e outras qualidades predominam... O vaidoso vive na ilusão de que deve fazer muito para ser aprovado perante as demais pessoas, para agradar ao mundo mesmo que pague o preço de desagradar a si. A aprovação interna é a mais difícil de ser alcançada.

O ser humano aprende ao longo da vida a carregar essa vaidade interna, através das constantes comparações feitas entre ele e os outros, onde não basta apenas ser... Ser ele mesmo seria aprender os valores internos, assumir suas verdades, a realidade de seu ser, trazendo para fora sua essência... No entanto, fomos ensinados desde tenra idade que devemos agir maravilhosamente dentro do que o outro espera de nós... Vivendo em função do reconhecimento dos outros.

 A experiência clínica mostra que hoje grande parte da população vivencia estados de vazio interno, a depressão e a ansiedade acabaram entrando no repertório de doenças bem cotadas, tanto que se ouvimos constantes queixas sobre sentimentos de dor no peito, sensação eminente de desmaio... Sintomas entre outros de alta ansiedade.

A ansiedade e a depressão é uma doença que vai se instalando aos poucos, sem pedir licença e na maioria das vezes sem a real percepção da pessoa, às vezes não se percebe ou não quer perceber que esses fenômenos possam estar relacionados à vivencia da   vaidade social....O individuo traça sua vida baseada na busca de obter elogios e aprovações do outro.

Aprende-se a viver assim e vai apenas repetindo padrões automáticos de condutas e pensamentos.

O portador da vaidade está tão preocupado com o mundo e para corresponder as expectativas do mundo necessariamente sente necessidade de um personagem...De posse do personagem sua primeira perda será a espontaneidade (baseado no delírio de que está sempre sendo observado).

Atualmente a vaidade passou a ser tão popular a ponto de ser aceito pela sociedade os diversos delírios. 

Quanto ao conceito do belo fisicamente não está estabelecido em cima de uma realidade, mas em cima de conceitos sociais, de marketing. Estabeleceu-se um padrão de beleza baseado nos meios de comunicação e a massa assumiu como real, tanto que ao olhar as revistas de beleza adquirimos o complexo de feiura, agindo de modo a tentar modelar seguindo aqueles padrões de revistas, da mídia.

 O conceito de beleza ficou estabelecido sobree padrões externos... Tudo o que envolve o personagem... Matando o ser real será medido através   através de uma luneta deficiente estabelecendo no eu verdadeiro a sensação de sentimentos fragmentados ... Desconjuntado, porque não se encontra enquadrado de acordo com o figurino que criou para si... O ser não está dentro dele.... Tornou-se a criação moldada que fez de si para satisfazer sua vaidade.

Para melhorar um pouco o estado de “nada” coloca os mecanismos de defesa para compensar a sensação de desvalorização... A mais comum é a projeção. Se vê no outro e então critica, julga, deixando o outro supostamente “por baixo” e assim obtém um pouco de bem estar.

 O vaidoso não consegue lidar com suas dificuldades, ou aceitar-se, mantém-se extremamente distante de si, e....como não conseguiu o sucesso que queria...Surgira outros sentimentos não elevados como a inveja... Na inveja vem a destrutividade tentando ofuscar o brilho dos outros considerando-se que a inveja é a negação das próprias habilidades...Deixo o eu para misturar-me ao eu do outro.

 Vaidade é um tipo específico de ilusão... O orgulho seria as ilusões em geral, logo um está relacionado ao outro... Possuindo orgulho a vaidade é automática e vice versa, sempre buscando o sucesso por vias externas, fora de si.

A inveja é um assunto polemico... Se fizermos um questionário com a pergunta; Você sente inveja? Uma margem muito pequena assumira que sim...  O vaidoso jamais assume que é invejoso, porém todos carregam doses de inveja, em maior ou menor grau.

Quando se fala em inveja logo se pensa em um sentimento ruim, associado ao desejo de destruir o outro, porém existe a inveja benéfica que impulsiona a busca pelo crescimento, sem ódio agindo como uma força que mobilizando o crescimento... No entanto, caso esteja envolvida a vaidade será uma inveja carregada de ódio e desejo de destruição, desejamos maldosamente ver o outro que está em melhores condições do que nós cair. O vaidoso é extremamente invejoso, por estar constantemente se comparando ao outro, às vezes compara-se tanto que pode chegar ao grau da obsessão.

 O vaidoso escolhe sempre quem está em condições melhores do que ele para se comparar, em estados mais avançados, com mais aptidões, pessoas bem diferentes dele, logo, ele vai se sentir por baixo. O que é outra ilusão,.. É falso que alguém possa estar por baixo, ele é ele, com tudo o que pode ser. A outra pessoa está trilhando seu próprio caminho, e provavelmente está em uma condição melhor porque não fica medindo, ou olhando a vida do outro. É alguém natural que percorre seu caminho da melhor forma possível...É aquele que trilha seu caminho com naturalidade, tem todas as probabilidades de dar certo no caminho que traçou para sua existência.

Quando se opta pela maturidade de vida, segue-se uma trilha ordenada estipulando as próprias metas. O vaidoso não tem paciência, ele quer dar um pulo, quer estar na frente de todos sem ter passado por todas as lições. Seu desejo é mais de poder do que aprendizado, ele quer explodir repentinamente, arrasar, quer acontecer.

A Fofoca (outro mecanismo de defesa) é um dos recursos utilizados no mecanismo de compensação... Utiliza-se do extremo da ilusão e do delírio, jogando o outro para baixo e tendo a fantasia plena de que se está por cima. É interessante perceber o quanto pessoas com baixa autoestima gostam de fazer fofocas e criticas aos outros, por necessitar projetar no outro aquilo que não suporta em si. Pode-se observar muito da pessoa pelo quanto ela fala das outras, principalmente do que fala mal.

 A necessidade de falar mal do outro surge em pessoas que se sente muito por baixo, inferiorizada, cheia de inveja, com a sensação de que não consegue crescer em nada... A situação de inferioridade criada pela própria pessoa não é uma condição é uma ilusão.

Ao chegar à maturidade encontraremos a paz não... No estado de paz não estaremos preocupados com o outro... Traçamos e caminhamos com elementos importantes de nossa vida sem querer saber como o outro está fazendo, sem querer competir, sem querer ao menos tomar conhecimento, pode haver uma curiosidade como aprendizado.

O ser maduro toma-se posse de seus afazeres, fazendo da melhor forma, como o outro faz não lhe interessa seu foco é para si... Caso venha a se preocupar com os outros será quando solicitado para uma ajuda.       

Outro sintoma muito comum da vaidade é a vergonha e a timidez... O tímido carrega uma prepotência vasta, todo tímido é um poço de orgulho e vaidade... Porque na maioria das vezes ele vai agredir-se, executando o que não gosta, fazendo o que ele acha que vai agradar. Em sua mente ele está se sentindo constantemente sendo julgado e observado, logo não pode dar um fora, pois pode se sentir "envergonhado".

    O tímido em sua insegurança se acha tão importante a ponto de ver ilusoriamente que todos estão observando seu jeito de ser, como anda, seu cabelo, se está fora do lugar, sua roupa... Na maioria das vezes não é verdade pois os demais estão pouco preocupados com ele, como se porta, se é muito feio, se o cabelo tem determinada cor.

      Cada ser humano está dentro de si preocupado com seus próprios problemas, pode até fazer um comentário, pode até falar do outro, mas em primeiro lugar preocupa-se consigo. Se alguém faz algum comentário do tímido, isto se torna um problema sério para a vida dele, pode até perder o sono, pode pedir demissão, os mais delirantes pode se esconder do mundo. Só ele vive com a fantasia dele, porque quem ele acha que está preocupado com o jeito dele viver só existe na mente dele.

O tímido carrega problemas consigo, pois atingindo o auge de sua alienação, onde suas ilusões tornam-se verdades, ele vive se prendendo ou censurando-se, condena-se sempre. Ele até sente vontade de participar da vida como todos, mas quando vem a vontade ele acaba se contraindo, fica vermelho (ficar vermelho não é o problema, desde que se encare isto com naturalidade), mas ele vai estar sempre criando um estado desconfortável para si. E por mais que se esforce e tenha vontade de agir a vergonha está na frente como forma de constrangimento, daí o dilema "vou ou não vou". No intelecto do tímido ele vive os acontecimentos sempre por antecedência, com muita ansiedade, vive mais o desejo do que o acontecimento real.

 O tímido vive muito o que Lacan descreve como simbolismo, que é forma pela qual se atua psicologicamente no meio, ou seja, vive-se uma realidade anterior através da ilusão, tanto que o acontecimento em si perde o sentido. Logo depois ele tende a ter estados ordinários de consciência acompanhados de sintomas psíquicos desagradáveis... É pela angustia que ele entrará na possibilidade de fazer a elaboração, na angústia poderá entrar em contato consigo.

 O vaidoso não consegue se entregar, pois vai estar sempre preocupado com o efeito que vai causar nas pessoas que estão por perto. Vive em desconexão, parece não conseguir unir todos seus pontos, ele se desintegra a cada crítica, a cada sensação ou sentimento de constrangimento.

 O tímido quando marca uma apresentação para daqui um mês, certamente vai desenvolver uma gastrite antes, em sua cabeça dançam milhares de pensamentos, ele pensa em todas as possibilidades de erros, ele se vê sendo satirizado, o que de fato pode acontecer que no dia da apresentação venham a rir dele, e se rirem?   Qual o problema em passar por situações vexatórias? Para o tímido é a destruição, o fracasso absoluto. A pessoa portadora de vergonha não consegue elaborar o pensamento que provavelmente no dia seguinte ninguém se lembrara mais...No entanto seu eu ficara dilacerado, ruminara o que ele julga que saiu em desacordo com os seus planos por muito tempo, até surgir um evento pior para substituir o outro sofrimento... Ele vai estar sempre padecendo sempre. E é em nome disso que ele se segura, pode até ser uma pessoa extremamente criativa, mas esconde sua capacidade porque segura os impulsos de fazer o que quer.

 Existem diversos graus de timidez. Há aquelas pessoas que quando acompanhadas tornam-se corajosas, chegam a fazer muitas brincadeiras tornando-se até pessoas interessantes... Tais estilos não serão tão vaidosos há um pouco de mistura de modéstia... Caso venha a ter junto com este brincalhão um tímido de verdade, ele vai sentir vergonha do amigo, vai ficar olhando de cara feia, orgulhoso, se possível dando beliscões ou chutando por baixo da mesa, sofrendo de vergonha pelo outro. E o outro está contente, ri, diverte-se, sem entender muito bem a posição daquele que dá sinais da vergonha que está sentindo, e quem está sendo cansativo e enfadonho é o crítico, ou seja, o tímido, que fica cada vez mais sem brilho e sem graça.

 O medo de errar, de falhar e os conceitos que aprendeu de certo e errado são pensamentos frequentes do vaidoso, sua pré-ocupação maior; servir de motivo de chacota de alguém caso venha a dar um passo em falso.

 O vaidoso não consegue se entregar, pois, vai estar sempre preocupado com o efeito que vai causar nas pessoas que estão por perto. Utiliza a vaidade como uma defesa, para viver bem... Descaracteriza-se e coloca em risco sua integridade e dignidade, ao ir se violentando em função de uma ilusão de querer obter o sucesso perante a sociedade.

 A depressão é o alarme do desacordo consigo, do desencaixe do “eu”, é uma espécie de intoxicação do "pobre de mim", ou "coitado de mim", com tal atitude perde toda a força, deixando-se contaminar pelos vícios sociais e não acreditando mais em muitos conceitos reais existentes, passando a se decepcionar com grande facilidade. Conforme vai crescendo a depressão cresce também a vitimização.

  

O vaidoso até vai para o palco, busca aplausos, às vezes tem até bons resultados, é aplaudido... No final sobra só ele e o camarim. E depois é ele com ele, não tem plateia... Vai olhar para dentro de si e sentir uma solidão devastadora, com sensação de abandono, seu eu vai ficando uma favela. A sensação é tão ruim que quem sofre deste mal, faz o possível para não ficar sozinho.

 Qualquer companhia serve; a televisão, procurar alguém para beber, porque estar consigo é ver o tamanho do “nada” que está lá dentro, e o vaidoso já o conhece, se não a nível consciente, certamente o inconsciente denuncia um estado de mal estar com aquela coisa a dizer por dentro que nunca conseguirá se realizar por inteiro, que o que faz não faz por si, não desenvolveu por si, não aprendeu para si. O pouco que conseguiu de realização foi quando se utilizou da humildade, abandonando em parte as ilusões.

 Ser modesto é o melhor investimento que se pode ir adquirindo ao longo do tempo, pois leva a ser verdadeiro, leva a manutenção da integridade, convicção, a certeza do melhor.

A modéstia é um grande passo para  saúde mental, seu eu é global, não importa se o outro ri, importa que nos sintamos completos, que nos achemos interessante, que gostemos dos  valores adquiridos e sedimentados ao longo do tempo, mesmo que necessitem de reforma, ser modificados, ir adaptando muitos detalhes... o que importa é que nós  gostamos do nosso conteúdo sendo honesto consigo, não porque quer chamar atenção, mas sim pelo estado de bem estar consigo em ser honesto criando  um ser completo para si.

 O modesto não se importa com críticas, tem um nível de inveja baixíssimo, não gosta de estar envolvido em fofocas, nem fazer fofoca. Não se sente menos consegue se colocar como igual. Ele deixou para traz o estado de fragmentado, conseguiu juntar as partes e se tornar inteiro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

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FROMM, Erich – A arte de amor. Ed Itatiaia Ltda.

 

GIBIER, Luiz, MALUF, Nicolau (orgs) – (1998) Reich Contemporâneo – perspectivas clínicas e sociais. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998.

 

MATTHIESEN, Sara Q. – A educação física e as práticas corporais alternativas: a produção científica do Curso de Graduação em Educação Física de 1897 a 1997. In: Revista Motriz. Rio Claro: Departamento de Educação Física da UNESP. Dez/ 1999. Vol 5, n. 2.

 

MEDEIROS Jr, Geraldo. Bioenergologia: a ciência das energias da vida. Londrina: Universalista, 2000.

 

REICH, Eva; ZORNANSKY, Eszter – (1997) Energia vital por bioenergética suave. São Paulo: Summus, 1998.