12/10/2024

O QUE DEW FATO É VAIDADE

O que de fato é a vaidade?

WHAT REALLY IS VANITY?

FERREIRA, Maria de Almeida - Psicóloga Clinica e Neuropsicologa. Especializações em Neuropsicologia, Psicologia Clínica, Psicologia comunitária, Sexualidade Humana e Neuropsicologia. Clinica Psicológica de Maringá.

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RESUMO

Muito se fala sobre a vaidade relacionado à conceitos externos, como preocupação com a aparência, com sua imagem corporal, mas a experiência clinica mostra que a vaidade esta mais relacionada a fatores interno a um desejo de satisfazer as suas necessidades de ser aceito, de ser bem visto pelo outro e até mesmo para evitar criticas, mesmo que isso esteja contra as suas vontades. A vaidade se manifesta de diversas maneiras como no caso do tímido, que embora tenha um jeito de coitado é alguém extremamente vaidoso e orgulhoso.

Palavras-chaves: vaidade, timidez, orgulho.

ABSTRACT W

HAT REALLY IS VANITY?

We hear a lot about vanity on the outside concept, as a concern about appearence, but the experience in clinic showed that vanity is more conected with the inside concept of satisfy a wish about your needs of be accepted, of be well seen by the other and also to avoid censure, eben if this is against your will. Vanity shows itself in a lot of ways, as in shy people, for example, that look like pitful but are extremely overproud.

Main Wors: Vanity, shyness, proud

 O QUE DE FATO É A VAIDADE ?

Vaidade é um estado de orgulho, ao qual não se relaciona exclusivamente aos cuidados pessoais. O vaidoso é aquela pessoa que quer ter sucesso frente ao mundo, sem olhar para ele, esquecendo-se que o sucesso mais importante é aquele que é dele, aquele interior como pessoa, que vem acompanhado com plenitude, mas o vaidoso vive na ilusão de que deve fazer muito para ser aprovado perante as demais pessoas, para agradar ao mundo mesmo que pague o preço de desagradar a si. A aprovação interna é a mais difícil de ser alcançada.

O ser humano aprende ao longo da vida a carregar essa vaidade interna, através das constantes comparações feitas entre ele e os outros, onde não basta apenas ser. Ser ele mesmo seria aprender os valores internos, a sua verdade, a sua realidade, trazendo para fora sua essência, mas é ensinado que deve ser maravilhoso para os outros, viver em função do reconhecimento dos outros.

A experiência clinica mostra que hoje grande parte da população vive um vazio muito grande, a depressão e a ansiedade acabaram entrando no repertório de doenças bem cotadas, tanto que ouve-se constante queixas sobre dor no peito, sensação de que vai desmaiar, que nada mais é do que uma alta ansiedade, e não se percebe e também não quer ver, que está vivendo dentro de uma vaidade social, ao qual tudo que se faz é no sentido de obter elogios e aprovações do outro. Aprende-se a viver assim e vai apenas repetindo padrões automáticos de condutas e pensamentos.

A questão é que na vaidade, se está tão preocupado com o mundo, que acaba criando um personagem, deixando a espontaneidade de lado, sempre em busca de agradar e ser bem visto pelo outro. Hoje a vaidade passou a ser tão popular que acabou sendo um delírio aceito pela sociedade. O conceito de belo não está estabelecido em cima de uma realidade, mas em cima de conceitos sociais, de marketing. Estabeleceu-se um padrão de beleza baseado nos meios de comunicação, e a massa aceitou como real, tanto que ao olhar as revistas de beleza fica-se com complexo de feiúra, agindo de modo a tentar modelar-se seguindo aqueles padrões.

O conceito de beleza é estabelecido em cima de padrões externos, que acabam levando ao vazio, uma vez que se tende a se ver através de uma luneta deficiente, sentindo-se desconjuntado, porque não se sente de acordo com o figurino que ele criou para si. Ele não é ele. Ele é a criação que fez de si para satisfazer sua vaidade. Lançando então os mecanismos de compensação como à desvalorização do outro para sentir-se  melhor. O vaidoso não consegue lidar com suas dificuldades, ou aceitar-se, ficando extremamente distante de si, e....como não conseguiu o sucesso que queria, vai entrar na inveja tentando ofuscar o brilho dos outros.

Vaidade é um tipo específico de ilusão, o orgulho seria as ilusões em geral, logo uma coisa está relacionada à outra. Ao possuir orgulho, tem-se a vaidade e vice versa, sempre buscando o sucesso por vias externas, fora de si.

Outro assunto polêmico é a questão da inveja. Torna-se difícil encontrar pessoas que assumam senti-la, o vaidoso jamais assume que é invejoso, porém todos carregam doses de inveja, em maior ou menor grau.

Quando se fala em inveja logo se pensa em um sentimento ruim, associado ao desejo de destruir o outro, porém existe a inveja benéfica que impulsiona a busca pelo crescimento, sem ódio, mas age como uma força que mobiliza a crescer. No entanto quando está envolvida a vaidade, é uma inveja carregada de ódio e desejo de destruição, desejamos maldosamente ver o outro que está em melhores condições do que nós cair. O vaidoso é extremamente invejoso, por estar constantemente se comparando ao outro, às vezes compara-se tanto que pode chegar ao grau da obsessão.

O vaidoso escolhe sempre quem está em condições melhores do que ele para se comparar, em estados mais avançados, com mais aptidões, pessoas bem diferentes dele, logo, ele vai se sentir por baixo. O que é outra ilusão, é falso que alguém possa estar por baixo, ele é ele, com tudo o que pode ser. A outra pessoa está trilhando seu próprio caminho, e provavelmente está em uma condição melhor porque não fica medindo, ou olhando a vida do outro. É alguém natural que percorre seu caminho da melhor forma possível, e aquele que percorre o caminho com naturalidade, tem todas as probabilidades de dar certo naquilo que traçou para sua vida.

Quando se opta pela maturidade de vida, segue-se uma trilha, na qual vai estipulando as próprias metas. O vaidoso não tem paciência, ele quer dar um pulo, quer estar na frente de todos sem ter passado por todas as lições. Seu desejo é mais de poder do que aprendizado, ele quer explodir repentinamente, arrasar, quer acontecer. A Fofoca é um dos recursos baixos encontrados para compensar. Utiliza-se do extremo da ilusão e do delírio, jogando o outro para baixo e tendo a fantasia plena de que se está por cima. É interessante perceber o quanto pessoas com baixa auto-estima gostam de fazer fofocas e criticas aos outros, por necessitar projetar no outro aquilo que não suporta em si. Podese observar muito da pessoa pelo quanto ela fala das outras, principalmente do que fala mal. A necessidade de falar mal do outro surge em pessoas que se sente muito por  baixo, inferiorizada, cheia de inveja, com a sensação de que não consegue crescer em nada. Uma situação de inferioridade criada pela própria pessoa. Na paz não se está preocupado com o outro, se faz suas coisas sem querer saber como o outro está fazendo, sem querer competir, sem querer ao menos tomar conhecimento. Toma-se posse de seus afazeres, fazendo da melhor forma, como o outro faz não lhe interessa. Só se preocupa com os outros quando se é solicitado para uma ajuda.

Outro sintoma muito comum da vaidade é a vergonha e a timidez.. O tímido carrega uma prepotência do tamanho do mundo, todo tímido é um poço de orgulho e vaidade. Porque na maioria das vezes ele vai agredir-se, executando o que não gosta , fazendo o que ele acha que vai agradar. Em sua mente ele está se sentindo constantemente sendo julgado e observado, logo não pode dar um fora, pois pode se sentir "envergonhado".

Ele se acha tão importante no delírio dele, a ponto de ver ilusoriamente que todos estão observando seu jeito de ser, como anda seu cabelo, se está fora do lugar, sua roupa. O que muitas vezes não é verdade, pois os demais estão pouco preocupados com ele, como se porta, se é muito feio, se o cabelo tem determinada cor.

Cada ser humano está dentro de si preocupado com seus próprios problemas, pode até fazer um comentário, pode até falar do outro, mas em primeiro lugar preocupa-se consigo. Se alguém faz algum comentário do tímido, isto torna-se um problema sério para a vida dele, pode até perder o sono, pode pedir demissão, os mais delirantes pode se esconder do mundo. Só ele vive com a fantasia dele, porque quem ele acha que está preocupado com o jeito dele viver só existe na mente dele.

O tímido carrega problemas consigo, pois atingindo o auge de sua alienação, onde suas ilusões tornam-se verdades, ele vive se prendendo ou censurando-se, condena-se sempre. Ele até sente vontade de participar da vida como todos, mas quando vem a vontade ele acaba se contraindo, fica vermelho (ficar vermelho não é o problema, desde que se encare isto com naturalidade), mas ele vai estar sempre criando um estado desconfortável para si. E por mais que se esforce, e tenha vontade de agir a vergonha está na frente como forma de constrangimento, daí o dilema "vou ou não vou". Na cabeça do tímido ele vive os acontecimentos sempre por antecedência, com muita ansiedade, vive mais o desejo do que o acontecimento em si.

O tímido vive muito o que Lacan descreve como simbolismo, que é forma pela qual se atua psicologicamente no meio, ou seja vive-se uma realidade anterior através da ilusão, tanto que o acontecimento em si perde o sentido. Logo depois ele tende a ter  uma depressão, e através desta, ele tem a possibilidade de fazer a elaboração. O vaidoso não consegue se entregar, pois vai estar sempre preocupado com o efeito que vai causar nas pessoas que estão por perto. Vive em desconexão, parece não conseguir unir todos seus pontos, ele se desintegra a cada crítica, a cada sensação ou sentimento de constrangimento.

O tímido quando marca uma apresentação para daqui um mês, certamente vai desenvolver uma gastrite antes, em sua cabeça dançam milhares de pensamentos, ele pensa em todas as possibilidades de erros, ele se vê sendo satirizado, o que de fato pode acontecer que no dia da apresentação venham a rir dele, e se rirem? Pronto, a destruição é total para ele é o fracasso absoluto. No dia seguinte ninguém se lembra mais, mas ele vai ruminar isto por muito tempo, até que venha algo pior para substituir o outro sofrimento, ele vai estar sempre padecendo. E é em nome disso que ele se segura, pode até ser uma pessoa extremamente criativa, mas esconde sua capacidade porque segura os impulsos de fazer o que quer.

Existem diversos graus de timidez. Há aquelas pessoas que quando acompanhadas tornam-se corajosas, chegam a fazer muitas brincadeiras tornando-se até pessoas interessantes. Este estilo não é tão vaidoso é um pouco mais modesto. Se junto com este brincalhão houver um tímido de verdade, ele vai sentir vergonha do amigo, vai ficar olhando de cara feia, orgulhoso, se possível dando beliscões ou chutando por baixo da mesa, sofrendo de vergonha pelo outro. E o outro está contente, ri , diverte-se, sem entender muito bem a posição daquele que dá sinais da vergonha que está sentindo, e quem está sendo cansativo e enfadonho é o critico, ou seja, o tímido, que fica cada vez mais sem brilho e sem graça.

O medo de errar, de falhar e os conceitos que aprendeu de certo e errado são pensamentos freqüentes do vaidoso, sua pré-ocupação maior; servir de motivo de chacota de alguém, se der um passo em falso.

O vaidoso não consegue se entregar, pois, vai estar sempre preocupado com o efeito que vai causar nas pessoas que estão por perto. Utiliza da vaidade como uma defesa , para viver bem se descaracterizando, mexendo com sua integridade e dignidade, ao ir se violentando em função de uma ilusão de querer obter o sucesso perante a sociedade.

A depressão é uma das formas alarme de que não se esta de acordo com o eu, é uma espécie de intoxicação do "pobre de mim", ou "coitado de mim", é onde se acaba perdendo toda a força, deixando-se contaminar pelos vícios sociais e não acreditando 6 mais em muitas coisas, passando a se decepcionar com grande facilidade. Conforme vai crescendo a depressão cresce também a vitimização.

O vaidoso até vai para o palco, busca aplausos, as vezes tem até bom resultados, é aplaudido, e depois sobra só ele e o camarim. E depois é ele com ele, não tem platéia. Vai olhar para dentro de si e sentir uma solidão horrível, com sensação de abandono, seu eu vai ficando uma favela. A sensação é tão ruim que quem sofre deste mal, faz o possível para não ficar sozinho.

Qualquer companhia serve a TV, procurar alguém para beber, porque estar consigo é ver o tamanho do buraco que está lá dentro, e o vaidoso já o conhece, se não a nível consciente, certamente o inconsciente denuncia um estado de mal estar com aquela coisa a dizer por dentro que nunca conseguirá se realizar por inteiro, que o que faz não faz por si, não desenvolveu por si, não aprendeu para si. O pouco que conseguiu de realização foi quando se utilizou um pouco da humildade, abandonando em parte as ilusões.

Ser modesto é o melhor investimento que se pode ir adquirindo ao longo do tempo, pois leva a ser verdadeiro, que é o bem maior, a manutenção da integridade, convicção, a certeza do melhor.

A modéstia é um grande passo para sua saúde mental, seu eu é global, não importa se o outro ri, importa que nos sintamos completos, que nos achemos interessante, que goste de seus valores adquiridos ao longo do tempo, mesmo que precise ser modificados, ir adaptando muitos detalhes, o que importa é que nós nos gostamos, ser honesto consigo, não porque quer aparecer, mas sim pelo estado de bem estar consigo em ser honesto. Acaba sendo um ser completo para si.

O modesto não se importa com críticas, tem um nível de inveja baixíssimo, não gosta de estar envolvido em fofocas, nem fazer fofoca. Não se sente menos consegue se colocar como igual. Ele deixou para traz o estado de fragmentado, conseguiu juntar as partes e se tornar inteiro.

REFERÊNCIAS

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