FATORES QUE LEVAM A SEPARAÇÃO DO CASAL
OS FATORES QUE LEVAM Á SEPARAÇÃO DO CASAL.
Escrito por MARIA FERREIRA DE ALMEIDA – publicado em “O diário do norte do Paraná” domingo, 20/03/83 pag. 13
Ao contrário do que geralmente se pensa, o problema sexual não é o fator principal das muitas separações de casais que ocorrem diariamente. Pelo menos é isto que ficou comprovado em pesquisa realizada no período de agosto a dezembro do ano passado, em Londrina, feita pela psicóloga Maria Ferreira de Almeida, que agora está em Maringá. A pesquisa visou detectar as possíveis causas da separação, constatando-se ao final que em 90 por cento dos casos os motivos são outros que não somente o da sexualidade. Ela se preocupou, também, como se vê ao final, com os filhos dos casais separados, os mais prejudicados e os que menos influenciam na separação.
OS MAIS COMUNS - Os problemas mais comuns relatados, tanto por homens quanto por mulheres, no que diz respeito a sexo, foram o de que a mulher se nega constantemente a ter um relacionamento sexual, e para fugir a" isso "inventa" desculpas, como dores de cabeça, cansaço etc. "De um lado está o marido queixando-se de que se sente rejeitado, de que não se sente amado, pois quem ama quer se entregar totalmente ao outro. “Do outro lado a mulher queixa-se do excesso de exigência sexual do marido, que o ato sexual não deve ser imposto, deve ser natural, que a exigência do marido vem apenas irritá-la”, afirma a psicóloga. Essas discussões são constantes, e a grande maioria dos casais se sente "cobrada" e "injustiçada" quando não consegue chegar a ponto comum. Maria Ferreira de Almeida destaca que casais com até 30 anos de casamento não conseguiram ser sensíveis o suficiente para descobrir e familiarizar-se com as necessidades do outro. E coloca uma pergunta: será que cada um dos cônjuges está interessado um no outro, ou apenas em si mesmo? Ela mesma raciocina: se fosse interessado peio menos em si mesmo, o interesse pelo outro seria consequência de um estar bem consigo mesmo.
RELAÇÃO OBRIGATÓRIA - As mulheres em sua maioria, e em alguns casos os homens, tiveram a experiência triste e deprimente da relação sexual sem prazer, por obrigação. De certa forma, sexualmente, o casamento tornou-se "troca". Segundo ela, o homem abastece a casa, e em troca exige da mulher a "sexualidade forçada". E não é só a sexualidade, como diversos outros afazeres, onde o homem faz uma distinção. A relação, então, chega a tal ponto, um se sentindo comprado e o outro vendido, que ambos acabam se tornando escravos um do outro, em uma relação que se torna "doente", um pouco dolorosa para a nossa realidade, afinal estamos no Brasil, em pleno século XX Os abusos quanto a sexualidade dentro do casamento continua...Casos de sodomia e homossexualismo por exemplo acontecem em maior proporção do que é divulgado. Quando existe a participação de ambos não existe limite entre o "normal" e o "anormal", desde que os dois estejam de comum acordo, desde que ninguém se sinta violentado dentro de seus direitos, não se sentisse obrigado a pagar a seu parceiro a sua cota para viver debaixo do mesmo teto o casamento continuaria com uma porcentagem até bastante elevada diminuindo o número de divórcios.
SEXO POR IDADE - A psicóloga comenta, também, que sexualmente a mulher está preparada (bastante ativa sexualmente) ao se aproximar dos 40 anos, onde há uma perda da inibição e uma maior segurança de ser aceita pelo seu parceiro. "Isto deveria continuar na menopausa, em alguns casos algumas mulheres não são afetadas em sua sexualidade ao atingir esse período. Quando são atingidas, e existe um declínio de sua sexualidade, geralmente se poupam da dor de uma frustração ou rejeição", acentua. O homem, ao contrário da mulher (isto é, atinge o pico da expansividade e potência sexuais aos 17/18 anos, começando a diminuir aos 40), aos 40 anos continua interessado, embora não tanto em relação à juventude. Aos 50 começa uma diminuição gradual do interesse, mas continuam responsivos à excitação sexual, sobretudo se for mantida de uma maneira ativa. Um dado interessante estudado e até pouco desconhecido, é de que nas classes mais baixas alguns homens preferem que sua parceira não tenha orgasmo, pois, segundo eles, a mulher que tem prazer "não presta". Seu julgamento, conclui-se; de que quanto mais adormecida a sexualidade feminina, maior sua fidelidade. Diante de tudo isso, talvez até seja compreensível que ao anoitecer existe a simulação de uma doença, a criança que não dorme a dor de cabeça ... Os casais que se separam, atualmente, tiveram em sua maioria um tempo de namoro de 8 meses a um ano, e cada um dos parceiros criou expectativas irreais quanto ao outro e quanto ao próprio casamento. Segundo constatou a pesquisa, o casamento em si existia mais em nível de fantasias e lembranças do que na realidade, motivo pelo qual ele dura ainda algum tempo, porque no início ele continua a existir como fantasia. Cada um vive o seu "mundinho", alienado, desligado da realidade, e vai perdendo aos poucos a capacidade de sentir. De repente o seu companheiro passa a ser seu inimigo. Quando cada um cai na realidade, fica a se perguntar: o que estou fazendo dentro deste casamento? Começa a partir daí, segundo constatou, uma ambivalência entre o real e o não real, entre o ficar e o continuar. A primeira a fazer esta pergunta, em grande parte dos casos, parece ter sido a mulher, e em mais de 80 por cento das separações a iniciativa parte dela. Ao se casar a mulher espera encontrar amor, segurança, e algumas coisas mais a nível de imaginação. O homem espera encontrar no casamento camaradagem, satisfação sexual, apesar da liberdade sexual dos nossos dias. Tais expectativas caem no primeiro ano de casamento, pois estas são muitas.
A QUESTÃO DA POSSESSÃO – Maria Ferreira de Almeida fala também sobre a possessão em seu trabalho. Antes de se chegar à separação algumas mulheres relataram ser bastante possessivas, como consequência do medo de perder o marido e os filhos. Normalmente, o que leva uma mulher a ser possessiva é a solidão e a insegurança. Quando o marido chega em casa tarde, muitas vezes ela discute, não porque tem ciúmes., mas sim por ter se sentido só, e junto com a solidão um grande vazio; chora, para aliviar sua tensão, fica depressiva, por estar se sentido só, e começa então a se tornar impertinente. Aumentam as discussões, os ciúmes ("o ciúme é o medo de perder alguém, e como ninguém é dono de ninguém, não deve haver ciúme, este nunca é função do amor, mas de nossas inseguranças e dependências", As brigas passam a se tornar um círculo vicioso dentro do casamento. O casal não conversa mais, apenas discute. O marido chega tarde para evitar discussões. A esposa discute, porque esperou demais. Prometeu para si que não iria brigar, mas as horas vão se passando e junto com elas a irritação vai aumentando e o resultado é a explosão de ambos. Começa a partir daí, as agressões físicas e verbais o que é muito comum no casamento. “O que talvez doa mais é a humilhação", registra.
Cada mulher faz uma imagem ideal de si mesma, além de fazer do companheiro e do casamento. Se o marido elogia alguma das qualidades que ela julga possuir em outra mulher, isto acaba reduzindo a autoconfiança. É de grande importância que o marido e a mulher saibam conversar, pois quanto mais um casal falar sobre pensamentos, sensações e problemas de cada um, mais forte a ligação entre ambos.
A boa comunicação ocorre através da troca de informações. Enquanto os dois conversam sobre o que aconteceu durante o dia, e se interessam pelo que dizem, compartilham dos mesmos interesses; disso depende o relacionamento. A pesquisa anotou também que às vezes não há necessidade de palavras para se comunicar; o silêncio fala pelos dois. Isto é bom enquanto se é o silencioso, mas no caso do silenciado o ambiente torna-se pesado. Ambos evitam se falar, um dos dois prefere ler ou ver televisão, discordam em tudo ou quase tudo, passando constantemente a se agredirem. Um dos dois se sente incompreendido, começam a surgir às desconfianças, os medos, as mágoas.
Quando ocorre a decisão da separação é porque a já se chegou ao auge da tão famosa "incompatibilidade de gênios"; ela existe e se expressa na falta de comunicação, e às vezes começam a brigar pela mesma coisa. A crise conjugal chega ao extremo quando ambos param de conversar. O símbolo maior da incapacidade do casal em se comunicar está na forma de como saem de casa, após a separação. Geralmente, os dois saem sem dizer uma palavra. Se ambos conseguissem falar, conversar sobre os seus problemas, a tensão seria evitada bem antes, e teriam encontrado saídas para os problemas existentes no casamento.
Existem parceiros que “emburram", permanecendo em silêncio durante semanas. O que o outro parceiro não consegue ver é que muitas vezes esse silêncio é um pedido de socorro. O castigo do silêncio é uma punição aprovada e "indica reação do grupo contra as pessoas que desrespeitam suas leis". Entre casais ele pode servir de máscaras e sentimento de culpa; alguns sentem que quanto menos falarem, menor o risco de revelar o que escondem.
A VOLTA EM LIBERDADE - Outro fato interessante anotado pela psicóloga adiantou é que muitos casamentos, hoje em dia, não duram um ano sequer ; é o de que uma quantidade até relevante de casais que se separam, depois de algum tempo passa a "transar" novamente com a diferença de que não existe a mesma dependência anterior, pois sentem-se menos presos e a sua individualidade é mais respeitada. Uma das formas comuns que o marido encontra para reclamar a atenção não recebida é quando, por exemplo, este critica a roupa, diz que não está bem cuidada, ou cria frase tipo' "você gasta demais, acha que sou dono do banco". Por outro lado, para a mulher, esta é urna forma de cobrança, além de que, quando ambos não dependem financeiramente um do outro, o relacionamento torna-se mais fácil, há uma diminuição da agressividade, e a agressividade, tanto verbal quanto física, acaba gerando frustração sexual e humilhação em um dos companheiros.
Quando um dos cônjuges mantém uma ligação paralela no casamento, a causa está provavelmente no empobrecimento deste, isto quando existe uma ligação sentimental, pois em um casamento mais seguro pode ocorrer, mas já não é mais um envolvimento emocional e sim a procura de alguma coisa nova. Se o casal está se entrosando perfeitamente e existe urna boa comunicação, não existe a necessidade de procura, de buscar um envolvimento emocional paralelo, pois ambos sentem-se preenchidos dentro do próprio casamento. Grande parte dos casais que chegam até à separação já está comprometida com outras pessoas. Um ou outro já tem uma terceira pessoa, na qual pretende constituir família; os que não têm relatam não querer casar nunca mais.
Mais um ponto que poderia ainda contribuir para a separação seria o excesso de trabalho na vida de um dos cônjuges. Por exemplo: a mulher não muito segura, e que vive em função do marido, começa a se sentir depressiva e enciumada quando o seu "objeto único" está ausente.
QUAL O MAIS PREPARADO? - Já que para o casamento nenhum dos dois, na maioria, está preparado, a psicóloga pergunta quem está mais preparado para a separação, o homem ou a mulher?
A pesquisa tem demonstrado que o homem na maioria das vezes fica sem ação, ignorando como reagir ante um pedido de separação. Os casais, ao estarem se separando, encontram-se em um estado de tensão bastante elevado, e quando questionados se não querem tentar novamente, o sexo masculino parece ter sido mais flexível. Eles normalmente querem uma nova tentativa, ao contrário da mulher, que acredita que as tentativas existiram dentro do próprio casamento, não aceitando em hipótese alguma continuar a união. A vida a dois começa a ficar enfadonha e aborrecida, marido e mulher não fazem nenhum esforço para agradar um ao outro. A situação leva a tal irritação que os parceiros não veem outro caminho e acabam saindo de casa. Talvez a solução estivesse, pensa ela, em refletir mais antes do casamento, uma melhor preparação, pois não existe uma preocupação quanto a preparação física e psicológica, do indivíduo. Este deve ser visto como um todo, um ser humano em todo o seu aspecto biopsicossocioeconômicocultural. Haveria, portanto, necessidade de uma preparação em bases firmes, não só para dizer que existe, pois a verdade é que todos querem se casar, e todos querem que as pessoas se casem.
A pressão social que leva ao casamento está em toda parte, desde a publicidade comercial até a tomada de posição das religiões e governos em todos os países, além da família influenciar de várias formas. Os jovens saem em busca de novos caminhos à procura de uma vida independente, procurando como saídas o casamento, enquanto que os que estão dentro estão procurando como saídas a separação. Talvez, se existisse um trabalho consciente, uma preparação para os jovens, não haveria tantos casamentos com duração de menos de um ano e aumento de filhos sem pais. Muitos menores não estariam hoje sendo marginalizados. com tantos conflitos internos e carência afetiva. O casar não deveria ser juntidade, mas sim viver e conviver um respeitando o outro.
A psicóloga Maria Ferreira de Almeida, formada em Londrina, está em Maringá há pouco tempo, enfrentando dificuldades iniciais e pretende montar uma clinica, para atender crianças e casais, ou seja, terapia familiar, sua maior preocupação. Ela já fez cursos de especialização em psicologia clinica comunitária, cursos de Ludoterapia em psicomotricidade, em trabalhos com crianças, além de participação em vários simpósios. Para ela, as pessoas somente procuram a psicologia hoje, em último caso, quando a psicologia é preventiva, inclusive em casos de doenças, muitas das quais resultam de fatores puramente psicológicos. Seu telefone é 24-7280.