30/05/2015

SEPARAÇÃO DO CASAL (II)

ARTIGO ESCRITO PELA PSICOLOGA MARIA FERREIRA DE ALMEIDA, PUBLICADO NO ‘’O JORNAL DE MARINGA’ em Maringá, quarta feira- 09-03-1983- pag. 02.

 

SEPARAÇÃO DO CASAL (II)

Cada mulher faz uma imagem ideal de si mesma, além de fazer do companheiro e do casamento. Se o marido elogia alguma das qualidades que ela julga possuir em outra mulher, isto acaba reduzindo a autoconfiança. É de grande importância que o marido e a mulher saibam conversar, pois quanto mais um casal falar sobre pensamentos, sensações e problemas de cada um, mais forte a ligação entre ambos.

A boa comunicação ocorre através da troca de informações. Enquanto os dois conversam sobre o que aconteceu durante o dia, e se interessam pelo que dizem, compartilham dos mesmos interesses; disso depende o relacionamento. A pesquisa anotou também que às vezes não há necessidade de palavras para se comunicar; o silêncio fala pelos dois. Isto é bom enquanto se é o silencioso, mas no caso do silenciado o ambiente torna-se pesado. Ambos evitam se falar, um dos dois prefere ler ou ver televisão, discordam em tudo ou quase tudo, passando constantemente a se agredirem. Um dos dois se sente incompreendido, começam a surgir às desconfianças, os medos, as mágoas.

 Quando ocorre a decisão da separação é porque a já se chegou ao auge da tão famosa "incompatibilidade de gênios"; ela existe e se expressa na falta de comunicação, e às vezes começam a brigar pela mesma coisa. A crise conjugal chega ao extremo quando ambos param de conversar. O símbolo maior da incapacidade do casal em se comunicar está na forma de como saem de casa, após a separação. Geralmente, os dois saem sem dizer uma palavra. Se ambos conseguissem falar, conversar sobre os seus problemas, a tensão seria evitada bem antes, e teriam encontrado saídas para os problemas existentes no casamento.

Existem parceiros que “emburram", permanecendo em silêncio durante semanas. O que o outro parceiro não consegue ver é que muitas vezes esse silêncio é um pedido de socorro. O castigo do silêncio é uma punição aprovada e "indica reação do grupo contra as pessoas que desrespeitam suas leis". Entre casais ele pode servir de máscaras e sentimento de culpa; alguns sentem que quanto menos falarem, menor o risco de revelar o que escondem.

        Outro fato interessante  é que muitos casamentos, hoje em dia, não duram um ano sequer ; é o de que uma quantidade até relevante de casais que se separam, depois de algum tempo passa a "transar" novamente com a diferença de que não existe a mesma dependência anterior, pois sentem-se menos presos e a sua individualidade é mais respeitada. Uma das formas comuns que o marido encontra para reclamar a atenção não recebida é quando, por exemplo, este critica a roupa, diz que não está bem cuidada, ou cria frase tipo' "você gasta demais, acha que sou dono do banco". Por outro lado, para a mulher, esta é urna forma de cobrança, além de que, quando ambos não dependem financeiramente um do outro, o relacionamento torna-se mais fácil, há uma diminuição da agressividade, e a agressividade, tanto verbal quanto física, acaba gerando frustração sexual e humilhação em um dos companheiros.

Quando um dos cônjuges mantém uma ligação paralela no casamento, a causa está provavelmente no empobrecimento deste, isto quando existe uma ligação sentimental, pois em um casamento mais seguro pode ocorrer, mas já não é mais um envolvimento emocional e sim a procura de alguma coisa nova. Se o casal está se entrosando perfeitamente e existe urna boa comunicação, não existe a necessidade de procura, de buscar um envolvimento emocional paralelo, pois ambos sentem-se preenchidos dentro do próprio casamento. Grande parte dos casais que chegam até à separação já está comprometida com outras pessoas. Um ou outro já tem uma terceira pessoa, na qual pretende constituir família; os que não têm relatam não querer casar nunca mais. 

Mais um ponto  que poderia ainda contribuir para a separação seria o excesso de trabalho na vida de um dos cônjuges. Por exemplo: a mulher não muito segura, e que vive em função do marido, começa a se sentir depressiva e enciumada quando o seu "objeto único" está ausente.  Já que para o casamento nenhum dos dois, na maioria, está preparado,  pergunta-se quem está mais preparado para a separação, o homem ou a mulher?

 A pesquisa tem demonstrado que o homem na maioria das vezes fica sem ação, ignorando como reagir ante um pedido de separação. Os casais, ao estarem se separando, encontram-se em um estado de tensão bastante elevado, e quando questionados se não querem tentar novamente, o sexo masculino parece ter sido mais flexível. Eles normalmente querem uma nova tentativa, ao contrário da mulher, que acredita que as tentativas existiram dentro do próprio casamento, não aceitando em hipótese alguma continuar a união. A vida a dois começa a ficar enfadonha e aborrecida, marido e mulher não fazem nenhum esforço para agradar um ao outro. A situação leva a tal irritação que os parceiros não veem outro caminho e acabam saindo de casa. Talvez a solução estivesse, pensa ela, em refletir mais antes do casamento, uma melhor preparação, pois não existe uma preocupação quanto a preparação física e psicológica, do indivíduo. Este deve ser visto como um todo, um ser humano em todo o seu aspecto biopsicossocioeconômicocultural. Haveria, portanto, necessidade de uma preparação em bases firmes, não só para dizer que existe, pois a verdade é que todos querem se casar, e todos querem que as pessoas se casem.

A pressão social que leva ao casamento está em toda parte, desde a publicidade comercial até a tomada de posição das religiões e governos em todos os países, além da família influenciar de várias formas. Os jovens saem em busca de novos caminhos à procura de uma vida independente, procurando como saídas o casamento, enquanto que os que estão dentro estão procurando como saídas a separação. Talvez, se existisse um trabalho consciente, uma preparação para os jovens, não haveria tantos casamentos com duração de menos de um ano e aumento de filhos sem pais. Muitos menores não estariam hoje sendo marginalizados. com tantos conflitos internos e carência afetiva. O casar não deveria ser juntidade, mas sim viver e conviver um respeitando o outro.

(REFLEXÕES RESULTANTES DE UMA PESQUISA REALIZADA COM CASAIS QUE ESTÃO SE SEPARANDO)

 

 

Artigo publicado No “ O JORNAL DE MARINGA’ – Maringá, QUARTA FEIRA 09/03/83 pag. 02.