10/04/2015

DIFICULDADE EM LIDAR COM AS FRUSTRAÇÕES

FRUSTRAÇÕES;

Por que temos tantas dificuldades em conviver com as frustrações.  

ALMEIDA, Maria Ferreira de - Psicóloga Clinica. Especializações em Neuropsicologia, Psicologia Clinica, Psicologia comunitária, Sexualidade Humana e Psicomotricidade.

Clinica Psicológica de Maringá.

Avenida Itororó n 157 apt 302. Edifício Maria Ferreira. Zona dois.

CEP: 87010-460. Maringá Paraná.

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POR QUE TEMOS TANTAS DIFICULDADES EM CONVIVER COM AS FRUSTRAÇOES?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RESUMO

 

Através de alguns anos atuando em clínica como psicoterapeuta muitas coisas chamaram  atenção observando diversificadas dinâmicas que envolvem o ser humano em suas relações; uma delas foi a grande dificuldade que crianças, adolescentes e principalmente adultos possuem em aceitar as perdas, em conviver com a frustração gerada por não ter o poder eterno sobre os eventos da vida, buscando como meio de defesa interna os jogos afetivos, que possuem o intuito de alimentar a vaidade através da fantasia em sser sempre o vencedor sobre o outro, afastando assim suas inseguranças.

 

 

 

Palavras-chaves: frustrações, perdas, jogos afetivos.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ABSTRACT

 

Why is so difficult for us to live with frustations?

Over 23 years as a clinic phsicologist, many things had my attention when I observed the dynamics that envolves the human being in their relationtips, one of them was the huge difficult that children, teenages and specially adults have to accept their lost, to live with the frustation that exist because of the fact that they cannot have the eternal power over the life events, to deffend themselves they look for love games, that have the intention to feed the vanity by a fantasy of winner over the other, in this way they can withdraw the insecurity.

 

Keywords: Frustation, lost, love games. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POR QUE TEMOS TANTAS DIFICULDADES EM CONVIVER COM AS FRUSTRAÇOES?

 “Eles estão jogando o jogo de não ver o jogo que eles jogam” Laing.

 

A experiência como psicoterapeuta prestando atendimento psicológico às pessoas com multidiversidades na estrutura de personalidade, em suas diferentes idades e conflitos trouxe à tona percepções do quanto o ser humano é tendencioso à manipulação, traz para seus relacionamentos algo embutido como se a vida fosse parte de um jogo envolvendo competições sempre em busca de vitória. Para conseguir seus ensejos utiliza incessantes “jogos”, que tendem a se tornarem cada vez mais complexos. O que no início pode parecer uma brincadeira, um divertimento logo se transforma em vínculos tendenciosos a expansão crescendo sempre em direções extremas de amor ou de ódio. As regras vão se alterando à medida que deixam de completá-los em sua busca pela vitória, por vencer o outro.

Na relação homem mulher é perceptível nitidamente as cobranças...Percebemos um quadro muito comum em que um dos parceiros ao ser satisfeito em seus pedidos inicia a exigir sempre mais e mais do companheiro levando o relacionamento a um nível tão alto de exigência que o outro passa a se sentir incapaz de supri-las... E no auge da saturação os conflitos tornam-se inevitáveis culminando em alto grau de dificuldades onde se torna impossível manter a relação.

Na busca de se auto afirmar não existe compromissos com a relação, mas vencer ao outro, inaugura-se grandes competições principalmente quando se encontra outro competidor a altura, levando o relacionamento a um ponto irreversível...Obtendo-se momentos de aversão irreparáveis perdendo totalmente o desejo de relacionar-se ou conversar e até mesmo ver o companheiro.

Com o excesso de cobranças e exigências, ocorre o desenlace afetivo; a possibilidade de um rompimento e por consequência a perda... Gerando a ambos elevados sofrimentos.

 No intuito de evitar o sofrimento evita-se ou agride ao companheiro pelo óbvio motivo de que internamente seu eu não consegue manter mais uma convivência entregando-se ao estado interno de solidão, só ou a dois...  Surgem os estados de não entrega, de não participação onde desgaste emocional domina e toma proporções elevadas ao ponto de optar pelo abandono da relação evitando o autodestruir. Com o passar do tempo duas pessoas em um relacionamento chegam ao amadurecimento compreendendo e chegando à conclusão de que não há como obter ganhos em um jogo em que haja duas ou mais pessoas envolvidas emocionalmente.   

“As pessoas acabam se envolvendo nestes jogos afetivos por estarem se sentindo perdidas, muitas vezes acabam entrando sem querer” simplesmente acabou acontecendo ...  Os jogos afetivos começam a ser percebidos passando a incomodar quando tomam um rumo descontrolado entrando em cena o jogo do poder e luta em que um há de sobreviver sobre o outro mantendo a posse e o poder.

Na competição existe desejo implícito e eminente de ensinar ao outro como viver... Querendo que o companheiro compartilhe integralmente suas verdades...Na megalomania passa a se achar poderoso a ponto de acreditar que a verdade dos outros é irrelevante.  Marido e mulher são exemplos típicos. No jogo de poder, perde-se o respeito, um menospreza o jeito do outro, fazendo piadas sobre seus companheiros diante de amigos, parentes... Enfim, existem casais que convivem na mesma casa como verdadeiros inimigos.

      Quando um demonstra resistência ao participar ativamente do jogo e opta por não entrar e aceitar as regras impostas, surgem às várias tentativas em querer obrigar ao outro a satisfazer os seus caprichos, utilizando todas as armas que conhece para convencer e quando todas falham deve-se conviver com a sua frustração.

O ser humano necessita manter a relação de domínio em um processo de fuga diante da frustração. Existem formas sutis de achar que estamos no poder, como o fato de estar sempre fazendo favores, vestindo o personagem de bonzinho, maravilhoso, prestativo, amigo, estar sempre ao lado do alvo, com o discurso de prestatividade, apoio e o outro aceita por lhe parecer conveniente, acaba se acostumando com este tipo de jogo.

O mundo dos jogos é também um mundo de conveniências ilusórias; um local secreto em que possa esconder o “eu”. Quando um jogador não encontra alguém para competir acaba competindo consigo; para o grande jogador o importante é jogar não importa regras, não importa caráter, vale tudo...

O jogo seja ele qual for, é uma espécie de insanidade...

O jogador pesquisa para obter o conhecimento do adversário e assim utilizando-se de sutilezas empurrando sua presa a ansiedade e depressão.

O mimado que tem a personalidade de dominar negativamente desconhece que   mesmo sendo um bom jogador cairá nas garras de deparar-se vez ou outra com a frustração e cada frustração vira acompanhada de uma depressão, esfacelando ainda mais o elo de seu “eu” já fragmentado.

Os jogos de poder ocorrem em nome da vaidade, na busca da ilusão de ser amado. No jogo os relacionamentos são pouco duráveis e superficiais diferenciando dos relacionamentos com bases fortes e estruturados em um “eu” sadio e maduro onde basta ser o que é apenas solidificando a manutenção da personalidade integral e saudável.

 Envolver em jogos é o mesmo de não possuir um “eu” sedimentado, construído dia a dia em bases firmes, existindo a inversão do “eu” emancipado por um “eu” antigo vivendo na servidão e alimentando a servidão do outro, para que este outro não o abandone. No desespero psíquico em fugir do abandono paga-se o preço da despersonalização... E tal preferência ocorre simplesmente pelo medo de não ser amado. Muitos casais tem a capacidade de se destruírem enquanto pessoas, quando ficam juntos. Quando estavam solteiros eram criativos, produziam bastante, mas com o passar do tempo, no jogo de poder, tornaram-se medíocres.

Quando uma pessoa renuncia aos seus valores, torna-se invadível, como consequência seu inconsciente induz a ser usável e roubável. Ao renunciar ao seu eu, para viver o “eu” do outro deixara o campo aberto, seu self fragilizado... Passando a viver em função do estilo do outro...Toma inclusive a forma de cópia do outro, nos movimentos, nas ações, no pensar, no agir...Muitas vezes copia ao outro por sentir vergonha dos próprios princípios.

Manter a dignidade e a integridade do eu é um fator relevante para atrair o bem para a vida.

Adquirindo à consciência do estar só instala-se o processo de conviver com muitos medos, inclusive o da traição, até que esses medos deixem de atormentar. Muitas mulheres vão para um relacionamento abandonando algumas coisas até interessantes que tinham, em termos de capacidade, ou possibilidades de desenvolvimento... Repentinamente baseadas em valores falsos que lhe foram passados ela abandona tudo para servir ao homem, abandonam suas qualidades mais preciosas... O homem que tem esta mulher como esposa, apesar dos vários atributos que ela traz em si sente algo estranho por ela perdendo muito dos sentimentos de admiração... Ela se violou, violando-se ela desrespeitou-se e como consequência ele também a invade. Não a considera e não respeita o que ela é.

Aquela mulher ou homem que poderia ter mantido sua cultura, torna-se reduzida ao uso de outro ser, quem sabe também medíocre. Tornam-se dependentes na relação um com outro. Começa o sofrimento através da crítica, afinal ninguém se respeita, instalando a dor e a magoa no relacionamento. Se cada um mantivesse a integridade de sua personalidade, o respeito continuaria.

Este é talvez o conceito maior entre ganhar e perder. Porque em nome de querer ganhar a pessoa...Viola-se vendo no outro um semi deus...Um ser máximo, negando o seu “eu” ... Violou seu ser, foi contra sua integridade e foi se fragilizando.

Na busca de querer ganhar, querendo mostrar para a sociedade que conseguiria aquele homem ou mulher (jogo do poder). A mulher trai o seu eu neste momento, porque está indo lá atrás buscar aqueles conceitos “toda mulher que se preze, tem que ter ao seu lado um marido, um casamento, uma família”. E o homem também ouve, que não pode viver sozinho... E para completar ouvem também que a família ideal tem de ser muito certinha como em uma foto. Porque se não for assim se perde será julgada como incapaz... Tem que ter a foto, para o porta retrato, perfeitinha, não importando o preço emocional que será pago. A mente fica voltada para um único pensamento; EU QUERO... e para tentar encaixar esta família na foto, estas pessoas irão se desrespeitar e agredirem-se, pois precisam mostrar para a sociedade o casamento perfeito, filhos perfeitos. Precisam ganhar, estão competindo com diversas sociedades, inclusive a familiar...  Também estão no jogo de competição de mostrar a família (mãe e pai) a perfeição em educar filhos... Como se é um bom no relacionamento...Afinal esses jogadores provavelmente julgaram e criticaram muito no passado sua mãe, seu pai acusando-os que eles não sabiam educar...Mas ele (o jogador) mostraria quando tivesse sua família como não haveria problemas, que seus pais eram uma negação na educação, no relacionamento.

E se a foto não for reproduzida com aquela perfeição, sente-se que perderam. Dentro desta realidade, assina-se o contrato de fidelidade com a frustração. A competição tornou-se parte das crenças, sendo incorporada a vida de cada um acostumar-se a impor padrões e sacrifícios dentro de tudo o que se faz, inclusive na profissão.

 Ao incorporar o conceito “tem que”  aprende-se a localizar os defeitos dos outros, com jogos de cobranças, dizendo sutilmente nas entrelinhas que o outro é um perdedor...Ver os defeitos dos demais é o mesmo que confessar ...É falar de si...E ao criticar e julgar existe a tentativa de elevar o seu eu...Se existe a necessidade de elevação do eu é certo que não acredita em si, no entanto, necessita acreditar que está melhor que o outro... E assim vai destruindo o outro, para tentar se construir.

Um dia acorda e percebe que fez tudo para agradar aos outros, jogando “ao outro” a responsabilidade pela sua frustração. Quando se usa o outro como ponto de referência sempre se trilha o caminho das frustrações. Ao tentar agradar o outro se perde a espontaneidade entrando em situações constrangedoras.

Frustração e ansiedade, estão intimamente ligadas, uma complementa a outra. Tudo que é feito a nível de competição vai gerar outra energia negativa paralela que é a ansiedade pelo medo de perder. E quanto maior o medo de perder, maior a frustração até por antecipação.

A frustração atingindo o psicológico passa por cima do ser como um rolo compressor com poder máximo de destruição. Afeta o corpo e o sistema imunológico. É um elemento destrutivo que parece circular pelo sangue.

Não se percebe a sua influência muitas vezes por desconhecimento ou até mesmo por mecanismo de negação, ou uma depressão profunda, e um desejo de desaparecer e não fazer mais parte deste plano toma conta...No extremo da dor e da depressão leva muitas vezes até a morte física, pois a psicológica é constante. É o resultado da soma constante de frustrações mal digeridas.

Jogar é algo sempre pernicioso, todos os jogos vão levando a um vício no qual vai se esmerando cada vez mais, começando com um joguinho simples e esse joguinho vai crescendo, complicando, integrando ao ser.

A frustração dilacera tanto nossa alma que nos leva a desejar algo que não é nosso...E o bem estar não pode existir ...A felicidade só é atingida a partir do momento em que ocorre a conscientização do ser, a maturidade... A felicidade está em cima do eu, do que se formulou, da integridade enquanto pessoa...Daquilo que foi formulado como interessante em sua cabeça...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

FROMM, Erich – A arte de amor. Ed Itatiaia Ltda.

 

GIBIER, Luiz, MALUF, Nicolau (orgs) – (1998) Reich Contemporâneo – perspectivas clínicas e sociais. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998.

 

MATTHIESEN, Sara Q. – A educação física e as práticas corporais alternativas: a produção científica do Curso de Graduação em Educação Física de 1897 a 1997. In: Revista Motriz. Rio Claro: Departamento de Educação Física da UNESP. Dez/ 1999. Vol 5, n. 2.

 

MEDEIROS Jr, Geraldo. Bioenergologia: a ciência das energias da vida. Londrina: Universalista, 2000.

 

REICH, Eva; ZORNANSKY, Eszter – (1997) Energia vital por bioenergética suave. São Paulo: Summus, 1998.