Separação de casal (I)
Artigo escrito por MARIA FERREIRA DE ALMEIDA – PUBLICADO NO “o Jornal de Maringa” em Maringá terça feira 08 de Marco de 1983 – pag. 02
Separação de casal (I)
Através de um longo trabalho de pesquisa para se detectar as possíveis causas da separação, os fatores que levam a isso percebe-se que em 90 por cento dos casos o problema sexual não é o fator principal das muitas separações de casais que ocorrem diariamente. Pelo menos é isto que ficou comprovado em pesquisa realizada no período de agosto a dezembro do ano passado, em Londrina, feita pela psicóloga Maria Ferreira de Almeida, que agora está em Maringá. A pesquisa visou detectar as possíveis causas da separação, constatando-se ao final que em 90 por cento dos casos os motivos são outros que não somente o da sexualidade. Ela se preocupou, também, como se vê ao final, com os filhos dos casais separados, os mais prejudicados e os que menos influenciam na separação.
Os problemas mais comuns relatados, tanto por homens quanto por mulheres, no que diz respeito a sexo, foram o de que a mulher se nega constantemente a ter um relacionamento sexual, e para fugir a" isso "inventa" desculpas, como dores de cabeça, cansaço... "De um lado está o marido queixando-se de que se sente rejeitado, de que não se sente amado, pois quem ama quer se entregar totalmente ao outro. “Do outro lado a mulher queixa-se do excesso de exigência sexual do marido, que o ato sexual não deve ser imposto, deve ser natural, que a exigência do marido vem apenas irritá-la”, afirma a psicóloga. Essas discussões são constantes, e a grande maioria dos casais se sente "cobrada" e "injustiçada" quando não consegue chegar a ponto comum. Maria Ferreira de Almeida destaca que casais com até 30 anos de casamento não conseguiram ser sensíveis o suficiente para descobrir e familiarizar-se com as necessidades do outro. E coloca uma pergunta: será que cada um dos cônjuges está interessado um no outro, ou apenas em si mesmo? Ela mesma raciocina: se fosse interessado peio menos em si mesmo, o interesse pelo outro seria consequência de um estar bem consigo mesmo. As mulheres em sua maioria, e em alguns casos os homens, tiveram a experiência triste e deprimente da relação sexual sem prazer, por obrigação. De certa forma, sexualmente, o casamento tornou-se "troca". Segundo ela, o homem abastece a casa, e em troca exige da mulher a "sexualidade forçada". E não é só a sexualidade, como diversos outros afazeres, onde o homem faz uma distinção. A relação, então, chega a tal ponto, um se sentindo comprado e o outro vendido, que ambos acabam se tornando escravos um do outro, em uma relação que se torna "doente", um pouco dolorosa para a nossa realidade, afinal estamos no Brasil, em pleno século XX Os abusos quanto a sexualidade dentro do casamento continua...Casos de sodomia e homossexualismo por exemplo acontecem em maior proporção do que é divulgado. Quando existe a participação de ambos não existe limite entre o "normal" e o "anormal", desde que os dois estejam de comum acordo, desde que ninguém se sinta violentado dentro de seus direitos, não se sentisse obrigado a pagar a seu parceiro a sua cota para viver debaixo do mesmo teto o casamento continuaria com uma porcentagem até bastante elevada diminuindo o número de divórcios.
Sexualmente a mulher está preparada (bastante ativa sexualmente) ao se aproximar dos 40 anos, onde há uma perda da inibição e uma maior segurança de ser aceita pelo seu parceiro. "Isto deveria continuar na menopausa, em alguns casos algumas mulheres não são afetadas em sua sexualidade ao atingir esse período. Quando são atingidas, e existe um declínio de sua sexualidade, geralmente se poupam da dor de uma frustração ou rejeição", acentua. O homem, ao contrário da mulher (isto é, atinge o pico da expansividade e potência sexuais aos 17/18 anos, começando a diminuir aos 40), aos 40 anos continua interessado, embora não tanto em relação à juventude. Aos 50 começa uma diminuição gradual do interesse, mas continuam responsivos à excitação sexual, sobretudo se for mantida de uma maneira ativa. Um dado interessante estudado e até pouco desconhecido, é de que nas classes mais baixas alguns homens preferem que sua parceira não tenha orgasmo, pois, segundo eles, a mulher que tem prazer "não presta". Seu julgamento, conclui-se; de que quanto mais adormecida a sexualidade feminina, maior sua fidelidade. Diante de tudo isso, talvez até seja compreensível que ao anoitecer existe a simulação de uma doença, a criança que não dorme a dor de cabeça ... Os casais que se separam, atualmente, tiveram em sua maioria um tempo de namoro de 8 meses a um ano, e cada um dos parceiros criou expectativas irreais quanto ao outro e quanto ao próprio casamento. Segundo constatou a pesquisa, o casamento em si existia mais em nível de fantasias e lembranças do que na realidade, motivo pelo qual ele dura ainda algum tempo, porque no início ele continua a existir como fantasia. Cada um vive o seu "mundinho", alienado, desligado da realidade, e vai perdendo aos poucos a capacidade de sentir. De repente o seu companheiro passa a ser seu inimigo. Quando cada um cai na realidade, fica a se perguntar: o que estou fazendo dentro deste casamento? Começa a partir daí, segundo constatou, uma ambivalência entre o real e o não real, entre o ficar e o continuar. A primeira a fazer esta pergunta, em grande parte dos casos, parece ter sido a mulher, e em mais de 80 por cento das separações a iniciativa parte dela. Ao se casar a mulher espera encontrar amor, segurança, e algumas coisas mais a nível de imaginação. O homem espera encontrar no casamento camaradagem, satisfação sexual, apesar da liberdade sexual dos nossos dias. Tais expectativas caem no primeiro ano de casamento, pois estas são muitas.
Antes de se chegar à separação algumas mulheres relataram ser bastante possessivas, como consequência do medo de perder o marido e os filhos. Normalmente, o que leva uma mulher a ser possessiva é a solidão e a insegurança. Quando o marido chega em casa tarde, muitas vezes ela discute, não porque tem ciúmes., mas sim por ter se sentido só, e junto com a solidão um grande vazio; chora, para aliviar sua tensão, fica depressiva, por estar se sentido só, e começa então a se tornar impertinente. Aumentam as discussões, os ciúmes ("o ciúme é o medo de perder alguém, e como ninguém é dono de ninguém, não deve haver ciúme, este nunca é função do amor, mas de nossas inseguranças e dependências", As brigas passam a se tornar um círculo vicioso dentro do casamento. O casal não conversa mais, apenas discute. O marido chega tarde para evitar discussões. A esposa discute, porque esperou demais. Prometeu para si que não iria brigar, mas as horas vão se passando e junto com elas a irritação vai aumentando e o resultado é a explosão de ambos. Começa a partir daí, as agressões físicas e verbais o que é muito comum no casamento. “O que talvez doa mais é a humilhação".